A pequena São José do Divino no Piauí está em festa este mês. E não é só pela chegada do mês de junho. No bojo de um ambicioso projeto do governo federal, concebido para levar serviços de banda larga para o interior, entrou em operação um ponto de acesso público na praça central da cidade.
O cartaz instalado no local informa:
“Agora tem Internet GRÁTIS na praça”.
Estive lá e vi: Quando o sol se esconde e a temperatura fica mais amena, muitas pessoas se dirigem até o local, celulares na mão, e se conectam na Internet.
Rede e equipamentos locais foram implantados com recursos do governo federal. Mas, a saída para o mundo exterior ficou a cargo da prefeitura. Por se tratar de cidade muito pequena, que representa pouco retorno para os grandes provedores de banda, o máximo que a prefeitura conseguiu foi alugar uma conexão via rádio, com 16 Mbps. Ou seja, inferior à banda que dispomos hoje em nossas casas e que achamos lenta demais.
Mas, parece que ninguém liga para este pequeno detalhe em São José do Divino. A gente vê no rosto das pessoas a felicidade. É uma alegria só! De graça, a gente toma até injeção na testa, diz o ditado popular!
A meu ver, a maior vantagem é que a cidade possui hoje uma rede óptica própria, interligando pontos de seu interesse. Secretarias municipais, escolas, creches, centros de assistência social, delegacia de polícia, o hospital, o escritório do programa Bolsa Família estão hoje todos interligados e podem trocar entre si grandes volumes de informação. Mas, ao sair para o mundo, terão que compartilhar uma fatia dos 16 Mbps disponibilizados para todos.
Mas, foi interessante constatar que toda inovação pode despertar também maus humores!
O WiFi da praça está equipado com antena de alto ganho. Embora o contrato estabeleça um alcance mínimo dentro da praça, o sinal chega com força em endereços que ficam a até 200 metros de distância. Com isto, comerciantes, moradores vizinhos, o dono da farmácia, o dono do supermercado e o gerente da agência dos Correios estão felicíssimos. Todos estão pensando seriamente em “descontratar” os serviços do provedor local e migrar para a rede da prefeitura. Num primeiro momento, pelo menos economicamente, o maior prejudicado seria o provedor.
Mas, entre os descontentes estava alguém que ninguém poderia imaginar: Padre Antônio Baselino, pároco da igreja de São José, padroeiro da cidade.
Ninguém se lembrou que seu local de trabalho ficava de frente para a antena. Sinal cheio dentro da igreja e bancos confortáveis para se sentar e sombra. Pode ter lugar melhor para ficar? O padre ficou danado da vida e estrilou feio!
Li com estes olhos que a terra há de comer o WhatsApp que ele mandou para o responsável pela rede: “Francisco, você precisa desligar a Internet nos horários de missa. Não quero ter que brigar com você”!
Na mesma hora, me ocorreram cenas que observo hoje em restaurantes e rodas de amigos. Dei razão à zanga do padre. Os paroquianos, entretidos com seus smartfones, não estavam acompanhando direito as missas, nem prestando atenção nos sermões!
A rigor, esta mensagem nada republicana deveria receber um sonoro NÃO. Afinal, apesar do nome da cidade estar associado a um santo, a prefeitura é laica e certamente deve haver evangélicos e ateus na praça durante os horários de missa. Mas, fiquei sabendo que a solicitação vem sendo devidamente atendida.
Maquiavel escreveu há quase sete séculos:
Não existe atividade mais perigosa e, ao mesmo tempo mais frustrante, do que trabalhar em inovação. O inovador precisa conviver com a indiferença dos futuros beneficiados e enfrentar o ódio daqueles que inevitavelmente se sentirão prejudicados!
FANTON, PARABÉNS.
VOCÊ MERECEU ESSA BRILHANTE HISTÓRIA.
ABRAÇOS
DARBÍ
Obrigado meu amigo. Quando tiver tempo, dê uma olhada em “coisas da vida”, “crônicas de viagem” e “pontos de vista”. Tem histórias de meio século atrás, mas, também tem histórias sobre fatos recentes.